O projeto Bienal com as Comunidades surge como uma forma de mostrar que a Bienal não está restrita ao seu espaço físico. Através desse projeto do Educativo Bienal, o raio de ação da Fundação se desloca e convida grupos de diversos lugares da Grande São Paulo a participarem de debates sobre arte, cultura, educação e sociedade, que já acontecem pela cidade.
“O diferencial que temos a oferecer nesse contexto é a abordagem dessas discussões através do pensamento artístico: como falar através de outras linguagens além da verbal, como aguçar os sentidos para os acontecimentos do cotidiano e interpretá-los de forma simbólica e poética, como os artistas expressam essas questões, enfim, proporcionar experiências artísticas e educacionais que sensibilizem as relações humanas e o ‘estar no mundo’”, explica o coordenador do projeto Bienal com as Comunidades, Pablo Tallavera.
Em 2014, além de trabalhar de forma contínua com algumas comunidades que já participavam de encontros de formação com o Educativo Bienal, o projeto também promove conversas mais pontuais com novos espaços. “Para os parceiros com os quais desenvolvemos um trabalho contínuo fizemos reuniões com os educadores locais para explicar o formato do projeto em 2014. Para montar os encontros, ouvimos tanto as expectativas para esse ano, como as considerações em relação aos trabalhos desenvolvidos anteriormente”, diz Tallavera.
De acordo com o coordenador do projeto, munidos da troca de expectativas e experiências com os parceiros, o contexto de cada lugar foi analisado minuciosamente, com a intenção de desenvolver espaços de intersecção e atender, com as ações de 2014, as expectativas das comunidades e do Educativo Bienal. “Elegemos uma questão central para trabalhar em cada local, que serve como reflexão disparadora para os planejamentos”, completa Tallavera.
Após a abertura da 31ª bienal, que acontece a partir de setembro de 2014, esses grupos que fazem parte do projeto Bienal com as Comunidades visitam a exposição a fim de ampliar o diálogo já construído durante os encontros e compartilhar experiências do contato com os trabalhos de arte contemporânea.
Comunidades com encontros contínuos
Núcleo Educativo Bolha de Sabão

O Núcleo Educativo Bolha de Sabão é um espaço de convivência para o contraturno escolar. Localizado no bairro do Brooklin, o público-alvo são crianças do Ensino Fundamental I e II de escolas públicas que moram ou frequentam a região.
“O perfil dos frequentadores, na sua maioria, acaba por ser de filhos de pessoas que moram na periferia e trabalham na região. Por esse motivo as crianças se deslocam muito por São Paulo e acabam encontrando vários mundos diferentes dentro da mesma cidade. Então, a pergunta norteadora para essa comunidade foi: Quantos mundos existem dentro do seu mundo?”, destaca o produtor e educador do projeto Bienal com as Comunidades, Felipe Tenório.
Questões relacionadas a percurso e trajeto, o tempo, a importância da fala e da escuta e diferentes suportes artísticos também estão sendo trabalhados com esse grupo.

Projeto Arrastão
O Projeto Arrastão é uma organização social sem fins lucrativos, que incentiva a arte, a cultura e atende crianças, jovens e adultos. Além dos moradores do Campo Limpo, região na qual se encontra a sede do projeto, o Arrastão também atende a população dos distritos de Capão Redondo, Vila Andrade, Jardim Ângela, Jardim São Luís e as comunidades de Taboão da Serra. Com o objetivo de gerar autoconhecimento e inclusão social, o Arrastão não quer apenas prestar assistência a essas comunidades e sim promover mudanças culturais e transformação social.

De acordo com Tenório, dentro desse pensamento de emancipação crítica do ser humano, a pergunta eleita para ser trabalhada no Arrastão foi: “O que você quer ser antes de crescer?”.

A linguagem da arte contemporânea, o que é obra de arte e pensamento artístico, o processo enquanto trabalho de arte e quando começa e termina uma obra também são assuntos discutidos durante os encontros.
Fundação Julita
A Fundação Julita é uma área de 47 mil m² que foi criada em 1951 com o objetivo inicial de abrigar as famílias migrantes da zona rural do país no modelo de cooperativa, onde além da moradia e terra para o plantio, também era oferecida assistência em relação à educação, alimentação, saúde e orientação profissional. Esse desejo de abrigar as famílias foi ampliado para atender crianças, adolescentes e toda a comunidade de forma mais integral. Hoje, a Fundação é uma grande referência em ações sociais e educacionais na região.

“Na Fundação Julita, percebemos que a nossa contribuição acontece através da linguagem visual, apresentando outras possibilidades de abordagem dos complexos assuntos que já são debatidos no espaço. Assim a pergunta norteadora ficou ‘Como se relacionar com o mundo explorando todos os nossos sentidos?’, explica o produtor e educador do projeto Bienal com as Comunidades.

Diferente do Núcleo Educativo Bolha de Sabão e do Projeto Arrastão, onde as ações estão mais focadas nas crianças e nos jovens, na Fundação Julita os encontros são com os educadores e funcionários que trabalham na fundação durante a parada pedagógica, que acontece uma vez por mês. Questões mais políticas, com recortes em violência, ditadura, visibilidade e invisibilidade e diferentes formas de ocupação do espaço também estão presentes nas conversas.
Valo Velho
Na região do Valo Velho o trabalho, que começou esse ano em parceria com a equipe de Relações Externas do Educativo Bienal, está sendo no Centro Educacional Unificado – CEU Feitiço da Vila.
Nesse local a ideia é apresentar a Bienal, a linguagem da arte contemporânea e o que se entende por obra de arte e pensamento artístico. Assim como na Fundação Julita, o projeto Bienal com as Comunidades no Valo Velho trabalha com os educadores e coordenadores dos Centros de Crianças e Adolescentes (CCAs) da região.
“Em um dos encontros no CEU Feitiço da Vila que contava com educadores de todos os CCAs da região o objetivo foi desenvolver a ideia de como a arte contemporânea pode ajudar, e é uma ferramenta poderosa para educadores de qualquer área do conhecimento”, conta Tenório.
Novas comunidades no projeto
A ideia de expandir o projeto Bienal com as Comunidades e realizar encontros mais pontuais com outros grupos já está acontecendo e vem com força a partir do segundo semestre. As novas parcerias do projeto são: Centro de Referência ao Idoso de Guarulhos, Escola de Samba Vai-Vai, A casa do Hip Hop, Centro de Tradições Nordestinas, Associação da Parada LGBT e Obá Inã.
Texto: Vivian Lobato
Fotos: Divulgação, Sofica Colucci e Sattva Horaci