f.marquespenteado (1955, São Paulo, Brasil) assina desta forma, sem o uso da letra maiúscula comum aos nomes próprios, sem evidenciar um gênero. Costurando histórias e vozes múltiplas, seus bordados têm mais que os bastidores como suportes, apoiando-se em cestos plásticos de pão, raquetes de tênis e mata-moscas. Cartões-postais, fotografias, pertences, desenhos e até mesmo roupas pessoais integram suas obras, que acabam espelhando um universo muito íntimo do artista nos locais onde são expostas.
Nos últimos anos, f.marquespenteado tem coletado livros sobre crimes policiais e detetives, nos quais sublinha frases de efeito e, depois, as transporta para a boca de personagens fictícios, ao redor dos quais orbitam pistas sobre suas histórias e características pessoais.
Suas obras participaram da 30ª Bienal de São Paulo – A iminência das poéticas, em 2012, que teve a curadoria geral de Luis Pérez-Oramas.

O bordado como memória
Tenho tido a honra de coletar, juntar e reapresentar materiais que pude salvar do descanso em que viviam: velhos, escondidos, sujos nas calçadas dos mercados. Com esse gesto eu os revigoro, ativo o lembrar de suas intrínsecas nobrezas, muito disso através de seus remendos “originais”, impecáveis, astutos – elaborados por uma geração de gente que compreendia muito, muito, muito bem o círculo ecológico virtuoso inscrito na construção de uma simples peça de tecido.
Outros materiais que me honram com sua presença me apresentam sinais dos tempos, marcas da incursão de um sol inclemente. Outros ainda oferecem marcas de suores e de fluidos dos corpos. Outros expõem as maestrias na engenharia de uma modelagem singular. Há outros tantos artistas como eu, nesta mesma arena da memória, na procura de honrar os artífices de outros tempos e com isso somar o gesto contemporâneo aos fazeres de então.

Troca de biografias
Penso que não exista nada de mais essencial e humano que a franca troca de biografias, assim, não me é nada difícil dividir as estórias inscritas em minha casa, local que é de fato onde qualquer pessoa pode conhecer o melhor de mim. Fico sempre impressionado com a dificuldade de muita gente em desvelar-se, de espontaneamente abordar seus universos, desde ideias a sentimentos.

O que mudou desde a 30ª Bienal, em 2012?
Como o braço mais forte de meu trabalho contemporâneo é a criação de diferentes sujeitos ficcionais (retratos bordados), serão então as mesmas biografias inventadas, com suas encruzilhadas e saídas, que darão conta das mudanças do mundo contemporâneo como eu o percebo. São essas vozes ficcionais que passam a narrar as aflições, os enfrentamentos e as conquistas que homens e mulheres vêm adquirindo, ao cair e novamente se levantar, sobretudo nos territórios e valores onde estão inscritos a sexualidade e o gênero.

Tecer x Bordar
Aqui, e sem qualquer ambição pedagógica, vou ter de lembrar que meu trabalho não implica em “tecer” algo: nunca fui interessado por teares e o severo cruzamento de fios que se requer para se formar um campo tecido. Meu trabalho celebra o bordado, que é uma técnica tópica: em poucas palavras soma-se algo sobre um tecido ou tela, ora adicionando linha ao trabalho ora retirando linhas do tecido para criar padrões.
