
Registro da montagem da mostra 30 x Bienal no Pavilhão Bienal.
São Paulo, 13/09/2013.
© Leo Eloy / Fundação Bienal de São Paulo.
Em 1973, o artista Antonio Manuel alterou as manchetes, notícias e fotos de uma série de jornais O Dia e os recolocou para distribuição e venda no Rio de Janeiro. Não seria a primeira vez que o público brasileiro seria impactado pela ousadia do artista, cuja produção esteve muito próxima a às tendências concretas e neoconcretas, protagonizada e reconhecida por nomes como Augusto de Campos e Décio Pignatari: “Fui uma pessoa muito próxima ao Hélio Oiticica, com quem fiz o parangolé Nirvana, à Lygia Pape, com quem fiz parcerias em filmes super-8, e ao Aluísio Carvão, Ivan Serpa… todo esse grupo neoconcreto que está aqui hoje”, diz, observando as obras do colega Raimundo Collares, no 3º andar da exposição 30 × Bienal.

Registro das obras da mostra 30 x Bienal no Pavilhão Bienal. .São Paulo, 01/10/2013. .© Leo Eloy / Fundação Bienal de São Paulo.
Na seleção de Paulo Venancio Filho, um conjunto de três obras do artista estão em exposição, todas explícitas do viés questionador e pulsante que embarca sua narrativa: Corpobra (1970), técnica mista que exibe o corpo nu do artista, O Corpo é a obra (1970), registro fotográfico de uma performance realizada no MAM-RJ, e Repressão outra vez-eis o saldo (1968) um dos destaques da 29ª Bienal de São Paulo.
Vinculada à resistência à ditadura militar no Brasil, Repressão… traz imagens de protesto alternadas a palavras, chamando atenção para a violência produzida pelo momento político no país. A tensão presente nas imagens é reforçada pela combinação de cores que compõem o trabalho: preto e vermelho. Em um dos painéis, que nos remetem a uma página de jornal tingida de rubro, se lê: “eis o saldo: garoto morto, morreu um estudante”.

Registro da montagem da mostra 30 x Bienal no Pavilhão Bienal.
São Paulo, 16/09/2013.
© Leo Eloy / Fundação Bienal de São Paulo.
“Em 2013, esse trabalho fica atual por esse clima de violência que está pelo Brasil inteiro. Tem uma linguagem, uma identificação talvez com esse período em que a obra foi criada. Em 1968, eu não poderia imaginar que isso estaria em contexto hoje. Queria que isso fosse superado, na verdade… – comenta Antonio Manuel – Mas uma coisa que permanece é que não podemos suportar tanta corrupção, tanta miséria… Por isso todos esses movimentos de rua, externos, que estamos vendo hoje, são bem-vindos. E que estes políticos sem-vergonha criem vergonha e entreguem seus cargos, declarem-se incompetentes e vão embora!” – completa, com toda sinceridade que lhe é própria. Sabe-se bem da impossibilidade de dissociar o idioleto do artista de suas próprias ideias, e Antonio Manuel é exemplo claro disso.
|imagens: ©Leo Eloy