
Raimundo Rodrigues, 27 anos, é um dos seguranças que trabalha na exposição 30 × bienal – Transformações na arte brasileira da 1ª à 30ª edição, em exibição até 8 de dezembro. É ele o responsável por uma das obras que é destaque dessa mostra: Ondas paradas da Probabilidade, de Mira Schendel, que chama muito a atenção dos visitantes por sua delicadeza.
Essa é a primeira vez que Rai, como é chamado carinhosamente pelos amigos, trabalha como segurança. “O meu último emprego era muito pesado, era carregador. É uma oportunidade trabalhar aqui, com cultura, poder aprender alguma coisa. Além disso, lidar com o público é muito bom, conversar com as pessoas me ajuda a perder a timidez”, ressalta.

O baiano apaulistado, pois seu sotaque já foi quase todo embora, afinal saiu de sua terra natal, Bom Jesus de Lapa, em 1995, conta que foi ele mesmo que “escolheu” seu posto de trabalho: “O outro segurança que ficava na obra da Mira não gostava, achava muito monótona. Eu, como sempre admirei essa obra, desde o primeiro dia que a vi, na hora quis trocar. Antes ficava nos trabalhos do Artur Barrio e não me identificava. É muito mais fácil quando gostamos da obra, pois ficamos contemplando.”
Quando perguntado por que gosta da obra da artista suíça radicada no Brasil, o baiano brinca: “Quem não gosta de tomar banho de chuva?” fazendo uma alusão à incidência da luz no trabalho, que em determinadas horas do dia lembra chuva. “Gosto porque além de delicada, ela vem acompanhada de um trecho do Velho Testamento, como já fui evangélico me identifiquei na hora”, completa.

De acordo com o segurança é recorrente pessoas que desejam tocar na obra da Mira. “Lógico que eu também tenho vontade de entrar nesse trabalho, aliás, quem não tem? Por isso, tenho que monitorar o tempo todo, e ajudar os orientadores de público no que for necessário para auxiliar os visitantes”, explica.
Rai conta uma história sobre sua relação com Ondas paradas da Probabilidade: “Um dia percebi que um dos fios de nylon do trabalho tinha caído no chão, próximo a passagem dos visitantes. Fui lá, peguei o fio, e guardei. Quando as pessoas me perguntavam se podia passar a mão, eu tirava o fio do bolso e dava para elas tocarem. Claro que não é mesma coisa, mas serviu para matar um pouco da curiosidade, em geral, gostaram da ideia.”

Segundo o segurança, outro fato engraçado que também aconteceu nessa obra. “Um menino de uma escola estava descendo a rampa e jogou para o amigo que estava aqui em frente ao trabalho um anel. Porém, o amigo não conseguiu pegar o anel, que caiu no chão, e rolou até o meio da obra. Como a instrução é para que ninguém toque no trabalho tivemos que chamar o pessoal da produção da Bienal para tirar o anel dali.”
Rai mora em Itapecerica da Serra, acorda todos os dias antes de amanhecer, por volta das 4h30, para sair tranquilo de casa, pegar o ônibus intermunicipal e chegar ao Parque do Ibirapuera antes das 9h. “Não gosto de chegar atrasado, e não faltei um dia sequer”, fala com orgulho o segurança, e lembra: “Agora está melhor, que um colega daqui às vezes me dá carona, facilita bastante. Quando não dá venho de ônibus mesmo, precisamos ir a luta, não é?!”.

Apesar da rotina puxada, porque além de acordar cedo, o segurança da mostra trabalha em pé das 9h às 19h, exceto às segundas que a exposição não abre, e as quartas e sextas, que a jornada de trabalho se estende até às 22h, Rai vive com um sorriso no rosto. “Gosto de ficar aqui, e quando estou nervoso, fico observando essa obra, ela me traz uma paz, fico muito calmo.”
Texto: Vivian Lobato
Foto: Sofia Colucci e Sattva Horaci